Colunistas
O Recomeço Que Vem De Dentro
Publicado em 29/01/2021 - 16:52 Por Letícia Lagoa - Artigo editado em 26/02/2021 - 17:52
Parece que foi ontem. Lembro-me da primeira vez que apresentei o Globo Esporte na TV Integração. O Brasil acabara de ganhar o pentacampeonato, na Copa do Mundo de 2002. A minha cabeça estava a mil, também pudera, de tabela eu estava realizando o sonho de uma ex-atleta e ex-estudante de Educação Física que dizia repetidamente, a si mesma, futura apresentadora daquele exato programa. Foram milhares de “boa tarde”, “até já” e sorrisos que perduraram ao longo de 10 anos na telinha do GE regional e estadual, diariamente. Mas quem me acompanhava fora dos bastidores soubera que anos depois, já morando em São Paulo, aquela determinação e alegria deram espaço para a tristeza. Comecei a perder peso, cabelo e o sentido da vida após um divórcio difícil.
Chegar a um estado como esse é difícil de enxergar qualquer sinal de luz no fim do túnel. É perder a referência de si mesmo. É se isolar do mundo e não reagir diante das situações impostas. É se sentir culpado. Há quem diga que estamos fazendo papel de vítima. O triste é que muitos mal sabem que isso é uma doença e tem nome. Tomei remédios, conforme orientação médica, mas nada, nada me fazia voltar a ser quem eu era antes. Sim, demorei muito para sair de um quadro depressivo profundo e quase desisti no meio do caminho várias vezes.
Mas por que estou compartilhando aqui parte de uma experiência ruim que enfrentei na vida? Primeiro, não tenho vergonha de admitir que sofri desse mal e nem medo de ser discriminada e ou julgada (quem nunca?). E segundo, continuo aqui vivíssima, feliz e saudável, respirando sem auxílio de aparelhos, com a missão de ajudar de alguma forma pessoas que estejam sofrendo por uma separação, perda ou qualquer outro luto, principalmente, nesses tempos de pandemia.
Talvez você não saiba, mas o Brasil é o país mais deprimido da América Latina. O pior é que todos os anos 12 mil pessoas tiram a própria vida. Segundo a Organização Mundial da Saúde, somos vice-campeões mundiais em casos de transtornos depressivos, perdendo apenas para os Estados Unidos. E a OMS já alertou que as perspectivas futuras não são boas: o Coronavírus pode começar a afetar ainda mais a nossa saúde mental.
O medo do contágio da nova doença e o afastamento repentino de familiares e amigos fizeram com que abraços e beijos desaparecessem da noite para o dia. No início da pandemia, vi meus pais idosos (sempre muito ativos) totalmente ansiosos e isolados. Então começamos a nos cuidar com o que tínhamos em mãos, em casa e ao nosso alcance. Meu pai improvisou uma academia no quintal, usamos óleos essenciais nos ambientes e fiz meditação guiada com a minha mãe para afastarmos qualquer tipo de pensamento ruim. Era hora de colocar em prática toda a minha experiência adquirida pós-renascimento, certo? Sim, e foi nesse momento que testei novamente a minha força interior com pequenas e importantes atitudes.
Não é sempre que temos força e coragem para lutar contra nossos monstros internos, não é mesmo? Ninguém conhece o tamanho da nossa dor. Mas a boa notícia é que todo mal passa e eu sempre acreditei nisso. Seja orando, correndo, dando risada (mesmo forçada), agradecendo, meditando, fazendo terapia... não importa, se você se permitir a sair desse buraco, você vai sair! Quer mais um empurrão? A chance de você se tornar uma versão muito mais forte daquela que existia antes da dor é grande. Acredite que há sempre um propósito maior. Como dizia o filósofo Heráclito, “ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio”. A única constante desta vida é a mudança. O recomeço que vem de dentro.
;
;
;