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Cadeiras brasileiras
Publicado em 03/08/2021 - 15:22 Por Eduardo Zarza“Não me posso resumir, porque não se pode somar uma cadeira e 2 maçãs. Eu sou uma cadeira e duas maçãs. E não me somo”.
Clarice Lispector
Tenho certeza de que muitos de vocês cresceram indo na casa da avó nos domingos e sem perceber que alguns dos móveis na casa dela eram peças de designers famosos, que hoje viraram ícones do design brasileiro.
O design de móveis brasileiro tem tido grandes destaques ao longo das décadas, acompanhando as tendências internacionais, produzindo peças icônicas que têm tido grande sucesso no mundo inteiro.
Vamos conhecer algumas das peças mais famosas do mobiliário brasileiro?
Cadeira Paulistano - Paulo Mendes da Rocha (1957)
Uma das poltronas de design brasileiro mais famosas do mundo. Produzida a partir de uma estrutura simples de aço dobrada a frio e 'vestida' com uma capa de tecido.
Apesar da simplicidade, essa poltrona de design brasileiro apresenta uma elegância única, fruto da genialidade de Paulo Mendes da Rocha.
Essa poltrona foi o móvel utilizado nas áreas sociais do tradicional Clube Atlético Paulistano, no Jardins. A cadeira foi vencedora do I Concurso de Design do Museu da Casa Brasileira, em 1986.
A peça faz parte do acervo permanente do Museu de Arte de Nova York (MoMA) junto ao Copo Americano (depois eu conto essa história, mas valorizem o design deste copo!).
Poltrona Mole - Sérgio Rodrigues (1957)
Sérgio Rodrigues é outro grande nome do design brasileiro que desenvolveu vários móveis icônicos. A poltrona Mole é uma estrutura de madeira maciça, com travessas que permitem a passagem de percintas em couro sola que, após ajuste com botões torneados, formam um apoio que suporta os almofadões do assento, do encosto e dos braços, unidos numa peça só.
Essa cadeira projetou o nome de Rodrigues para todo o mundo, entrando fortemente no cenário do design mundial com o selo “made in Brazil”.
O jornalista Sergio Augusto escreveu nas páginas do jornal O Globo, em 1997: “... a poltrona Mole foi a resposta que tínhamos para dar à tirania de Bauhaus [escola de design na Alemanha, depois posso contar um pouco dela também]. Uma Garrincha de quatro pernas driblando o racionalismo teutônico”.
Cadeira 1.001 - Jorge e Martin Zipperer (anos 40)
Essa foi o resultado do aproveitamento das sobras de imbuia das caixas de frutas que eram produzidas pela “CIMO”, uma das primeiras moveleiras do Brasil, fundada em 1921 pelos irmãos Jorge e Martin Zipperer.
A peça foi a mais importante da empresa, pois marcou a transição da produção artesanal para a produção seriada.
A 1.001 esteve presente em várias escolas e faz parte da história de muitos brasileiros, mas hoje em dia pode custar uma pequena fortuna. Facilmente encontrada em repartições públicas no passado, hoje é um ícone do design moderno brasileiro.
Cadeira Spaguete (anos 80)
Esta cadeira é um ícone do mobiliário brasileiro dos anos 80, feita em aço e fios de PVC coloridos, muito tradicional em quintais e varandas em todo o Brasil, uma cadeira mais que democrática pois é facilmente adaptável ao entorno devido ao seu design versátil e diferenciado.
De cores variadas, eram feitas de ferro, com armação em "X" nos pés, e espaguete PVC. As mais modernas ganharam cores clássicas, estrutura em aço ou alumínio, espaguete em silicone e novas versões: poltronas, banquetas e cadeirinhas infantis.
Cadeira Girafa – Lina Bo Bardi (1987)
A cadeira Girafa foi desenhada por Lina Bo Bardi em conjunto com os arquitetos Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki para compor o mobiliário de um restaurante em Salvador, localizado no pátio de um casarão e construído com técnicas estruturais típicas do Benin (África), feito de barro e sapê.
Com estrutura simples e dimensões reduzidas, o desenho da cadeira faz referência à girafa, dada a altura do espaldar em forma de “T”. O assento é redondo e as três pernas são afixadas por cavilhas de ipê. Feita inicialmente com pinho-do-paraná, hoje a madeira mais usada é a tauari. A estrutura permite um empilhamento em espiral.
¡Hasta luego!
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