Contadores de história, desde quando?
Publicado em 20/10/2021 - 15:17 Por Vanessa CarlosDe tempos em tempos eu recebo o feliz convite de visitar escolas para falar sobre o jornalismo. Há mais de uma década esta é uma rotina pessoal. O tema central é o mesmo: o jornalismo. Mas cada escola faz um pedido. Uma vez, na periferia de Uberlândia - MG, a diretora disse que enfrentava o problema de adolescentes fazerem cortes no próprio corpo dentro do banheiro da escola, motivadas por vídeos na internet, ela acreditava que se alguém "famosa" explicasse a gravidade deste tipo de atitude, as jovens escutariam com mais atenção. Outra escola queria que os jovens vissem que gente de escola pública pode realizar sonhos e como eu sou cria de escola pública, seria meio que um modelo para eles. Desta vez o desafio foi falar sobre a história do jornalismo e a rotina dos profissionais para uma turma de alunos de 7 e 8 anos de idade do ensino fundamental.
Meu ponto de partida é sempre que o jornalista é um contador de história. Mas qual história? Você sabia que o primeiro registro de um jornal é do Império Romano? Pois é, nem eu. Descobri numa pesquisa. O imperador Julio Cesar criou a Acta Diurna (Atos do Dia). A divulgação dos acontecimentos era em espécies de placas e tinha desde notícia de casamento e funeral até a publicação de leis e feitos de guerra.
Em um salto na história chegamos a 1430 quando o alemão Johannes Gutenberg criou uma máquina que permitia a impressão, no papel, de periódicos.
Próxima parada: 1º de junho de 1808. O Correio Braziliense passou a circular no Brasil, mas era editado em Londres. E em 10 de setembro do mesmo ano nasceu a Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal impresso em território nacional.
Volto para as minhas bases: jornalistas contam histórias. Quais histórias? Começamos com um trabalho parcial porque tudo o que o imperador Júlio Cesar queria era divulgar suas conquistas. Partimos para uma tentativa de imprensa imparcial em que no mínimo temos a obrigação de, pelo menos, ouvir todos os lados da mesma história. Mas a imparcialidade é relativa. Considerando que o corpo fala, mesmo quando estamos em silêncio, comunicamos nossas impressões e conclusões a partir das vivências que nos trouxeram até aqui.
O trabalho do jornalista é forma e conteúdo. Passamos pelas "placas" do imperador romano, por prensas, nasceu o rádio, a TV e a web. Passaram séculos e continuamos.
Hoje a imprensa segue em meio a fake news, descrédito por grupos que tentam desqualificar o trabalho de informar e até agressão física, moral e intelectual. Mas a imprensa segue, ela segue.
O que hoje pra mim é curioso é saber o interesse de crianças no jornalismo em pleno séc XXI. Para elas tudo é curiosidade em saber desta gente que conta história sobre a vida de outra gente. Para mim, jornalismo é rotina e só vale se for útil e se fizer sentido, ponto final e dever cumprido. Amanhã página em branco e começa tudo de novo, desde que seja útil e faça sentido.
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