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Homens são menos depressivos que as mulheres ?

Publicado em 23/09/2021 - 14:48 Por Hugueney Bisneto
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Créditos da imagem: Gustave Courbet (1819-1877)
Porque os homens nunca estão deprimidos. 

Estar deprimido é uma coisa e depressão é outra.

Antes de mais nada, 

há uma diferença grande entre SER e ESTAR

Eu sou branco ou negro ou amarelo, e serei por toda minha vida. 

Eu estou gripado mas logo passará. 

SER DEPRIMIDO, quadro crônico, tipo do Transtorno Afetivo Bipolar em
suas variantes com tratamento em definitivo com prognóstico reservado. 

ESTAR DEPRESSIVO, quadro de origem situacional,
reativo onde o tratamento tem começo, meio e fim, com bom prognóstico em primeira crise.

A sociedade hoje, não sabe mais ser triste. 

Temos sempre que estar sorrindo, felizes e de bem com a vida. 

As milhares de selfies nas redes mostram isso claramente, até nas situações em
que não há motivos para sorrir, lá está a indefectível foto do sorriso com a tragédia no fundo.

Não há nenhum problema em ficar triste. 

O luto é exatamente isso, um momento de tristeza, onde precisamos de um tempo para
retomarmos a nossa vida diária, mas sempre aparece alguém com um “não fique assim”,
“a vida continua”… claro que continua mas a pessoa precisa de um tempo.

Só que quando falamos em luto, todo mundo pensa no
falecimento de alguém ou de um animalzinho querido,
mas o luto também existe para a perda de um emprego,
um evento qualquer que era esperado e não veio e muitas mais coisas.

Só que nessa nossa sociedade de hoje, não há tempo para isso. 

Não nos deixam ter nosso luto.

Mas você já reparou que os homens (nós):-

-

Não precisam trocar de sobrenome.

A garagem é inteirinha deles.

Os preparativos para o casamento são simples.

Podem comer chocolate sempre que quiserem.

Não engravidam.

Os mecânicos não mentem pra eles.

Nunca precisam procurar outro posto de gasolina, para achar um banheiro limpo.

Rugas são traços de caráter... (e barriga, de prosperidade??? Rsrsrs)

Ninguém fica encarando os peitos deles quando estão falando.

Os sapatos novos não lhes machucam os pés.

As conversas ao telefone duram apenas 30 segundos.

Para férias de 5 dias, apenas precisam de uma mochila.

Podem abrir qualquer tampa de frasco.

Se outro aparecer na mesma festa usando uma roupa igual,
não ha problema, chegarão a ser amigos.

Cera quente não chega nem perto de suas regiões intimas.

Ficam assistindo a TV com um amigo, em total silencio,
por muitas horas, sem ter que pensar: “Deve estar cansado de mim”.

Se alguém se esquece de convidá-los para alguma festa,
ainda assim vai continuar sendo seu amigo.

Sua roupa intima custa no máximo 40 reais (em pacote de 3)

Três pares de sapatos são mais que suficientes! (verdade???)

São incapazes de perceber que a roupa esta amassada.

Seu corte de cabelo pode durar anos, alias, décadas. 

Uma cor só de sapatos para todas as estações.

Podem levantar a perna das calcas,
sem se preocupar com a aparência das pernas.

Podem fazer as unhas, com um trim.

Podem deixar crescer o bigode, se quiserem.

Podem comprar os presentes de Natal para 25 pessoas,
no dia 24 de dezembro, em 25 minutos!

Não é à toa que os homens sejam menos deprimidos que as mulheres ? 

Bem, os problemas masculinos são mais simples do que os das mulheres ?

Um executivo foi na sede de uma grande empresa de cosméticos palestrando
para a cúpula de comunicação e suas agências parceiras.

Enquanto não chegava a hora da fala, ele se engajou numa conversa e a
certo momento uma das mulheres presentes,
envolvida com uma das marcas masculinas da casa, soltou:

"Mas assim, os homens são mais simples, né."

Ele deu um sorriso:

"Olha, acho que não necessariamente."

"Ah, ao menos mais simples do que as mulheres vocês são, vai!"

"Hmm, vou ser obrigado a discordar.
Acho que esse é um dos maiores mitos que rodam por aí."

Após a palestra correu para o aeroporto e não conversou mais com ela, mas esse diálogo cabe muito bem aqui. 

O que significa quando dizemos que os homens são mais simples,
será que é algo inofensivo, apenas uma brincadeira?

Essa noção do homem chapado me incomoda há bastante tempo. 

Parece algo naturalizado, aquilo que é porque sempre foi e sempre será. 

Homens são binários, monocromáticos, racionais, retos, resolvedores, estreitos. 

Mulheres são mais intensas, emocionais, complexas, imprevisíveis, amplas. 

Um enorme universo próprio e mágico. 

Infinitamente indecifráveis, verdadeiras esfinges diante da qual se postam os homens, coitados. 

Se ao menos fossem um pouco mais profundos, talvez tivessem alguma chance de entendê-las.

Ao reforçar estereótipos como esses, reforçamos também a distância entre os gêneros. 

Como se de fato as mulheres viessem de vênus e os homens de marte,
alienígenas destinados à eterna guerra dos sexos.

Defendo que podemos ser tão densos, ou superficiais, quanto qualquer mulher.

Calha de sermos ensinados desde o berço a suprimir impulsos e ações indesejáveis
em favor de uma fachada que evoque força, temor, respeito, admiração, constância e equilíbrio.

Parte significativa das últimas décadas de estudos em relação aos conflitos dos papéis de gênero, relativos ao masculino.

Ela nos explica que muito da identidade masculina se constrói no medo, continuamente buscando
aquilo que prova que você não é fraco, inferior, feminino – o que se estende ao pavor da homossexualidade,
pelos que ainda pensam que ser homem é ser hétero.

A perseguição sem fim por músculos, sucesso, dinheiro, sexo, fama ou prestígio intelectual é reflexo disso. 

O sexo forte tem um ego frágil como casca de ovo. 

Teme ver sua virilidade posta em cheque. 

E repare como até os que se dizem seguros muitas vezes tem enraizado vários comportamentos
indicadores de sua masculinidade, como falar alto, grosso, arrotar,
agir de modo agressivo, impulsivo, abusivo, dominador. 

Nascer homem é carregar desde o berço a pressão pela grandeza.

Ser baixo, ter pau ou salários pequenos, músculos frouxos, voz fina,
tudo isso pode aumentar ainda mais a pressão, tanto externa quanto interna.

Esse contexto dá origem a quatro grande conflitos típicos do masculino,
facilmente reconhecíveis:

Conflitos entre relações de trabalho e família
Emocionalidade restritra
Comportamento sexual e afetivo restrito entre homens
Obsessividade com sucesso, poder e competição
Que, por sua vez, se desembocam em vários outros possíveis:

incapacidade para intimidade
depressão
ansiedade
alexitimia
stress

comportamento sexual abusivo
disfunção sexual
esgotamento ("burn out")
comportamento violento com a família
obesidade por abuso de comida (ligado a outros conflitos)
violência e abuso contra as mulheres
sentimentos profundos de culpa e insuficiência
comportamento de abuso psicológico com outras pessoas

A lista vai longe, nem de longe é exaustiva. 

Em especial me chama a atenção do distúrbio chamado alexitimia,
caracterizado pela "inabilidade de colocar os próprios sentimentos e emoções em palavras". 

Segundo a Associação Americana de Psicologia,
80% dos homens norte-americanos sofrem dessa condição em algum grau.

Portanto, não é surpresa nenhuma lermos
em recente meta-estudo realizado com pessoas dos
Estados Unidos, que o gênero mais narcisista é o masculino.

Eu peço ajuda ao expert
Guilherme Nascimento Valadares
Editor-chefe do PapodeHomem, 
co-fundador d'o lugar. 

Membro do Comitê #ElesporElas, da ONU Mulheres.
Professor do programa CEB (Cultivating Emotional Balance). 

Oferece cursos de equilíbrio emocional e escreve pequenas ficções no Instagram.

E ele afirma que mulheres serem mais narcisistas do que nós é só mais um
dos mitos dos estereótipos de gênero que não batem com a realidade. 

Esse, entretanto, merece ser dissecado com carinho.

A pesquisa analisou outros estudos realizados ao longo dos últimos 30 anos e concluiu
algo que não é novidade, mas que ainda assim insiste em ser ignorado por boa parte de nossa cultura. 

Não à toa tal achado estampou urls de prestígio mundo afora, como as da TIME e do Telegraph.

Narcisismo não é só selfie, o conceito se divide em três dimensões principais:

Liderança/Autoridade – desejo por autoridade e poder

Grandiosidade/Exibicionismo – vaidade e auto-centramento

Se sentir no direito de/Abuso – se conecta a comportamentos como agressão e manipulação

Os homens, segundo o estudo, ultrapassam as mulheres
de maneira estatisticamente significativa em todos os quesitos. 

Com ênfase no último, que diz respeito a ter ações abusivas
e se sentirem no direito de ser e se expressar exatamente como têm vontade. 

Todo modo, a conclusão da própria pesquisa, de modo bastante responsável,
enfatiza que nem todos os homens são assim e que devemos ter cuidado ao lidar
com os achados expostos, visto que a intenção não é amplificar
ou criar novas confusões de gênero. 

Ainda que seja amplo, o estudo é um recorte específico, óbvio que não trata de
todos os homens que existiram, existem e hão de habitar esse mundo.

Estamos falando, enfim, de seres que podem ser profundamente narcisistas, que por vezes
constroem identidades baseadas no medo e negação do feminino, obcecados por grandeza,
sucesso e poder, com dificuldades para interpretar e comunicar as próprias emoções com clareza,
ensinados a serem agressivos, que se tornam especialistas em fingir e simular que estão sempre sob controle, firmes,
prontos e com um plano debaixo do braço, mesmo quando não têm a menor ideia do que está acontecendo
e precisam lidar com pressões e estímulos contraditórios recebidos entre a infância e vida adulta,
reforçados quase todos os dias, para que sejam super-homens capazes de alternar entre os disfarces
de amantes vigorosos, provedores hábeis, parceiros sensíveis,
protetores corajosos, pais sábios e competidores ferozes.

Reconhecer essa complexidade é aproximar
homens e mulheres para um diálogo pé no chão. 

Afinal, não está fácil pra ninguém.

Perde-se uma piada, ganha-se lucidez.

Carlos Hugueney Bisneto.