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Ao não se comprometer com o protagonismo na própria vida, morre aos poucos a vontade de viver!

Publicado em 21/10/2022 - 00:16 Por Dra. Gabriela Lein Vieira
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Créditos da imagem: internet

Ao não se comprometer com um protagonismo na própria vida, morre aos poucos a vontade de viver!

Por medo de morrer, deixa-se de viver. Sobrando apenas a defesa para sobreviver, o investimento para fortalecer laços, falece! 

Assim, situações de abuso proliferam. Em diferentes lugares, respaldas por um silêncio e inércia, primários subjetivo. Estou falando da falta de comprometimento com o outro. 


Um exemplo, é o índice crescente, absurdo, da solicitação nas escolas de laudos médicos. Uma maneira, na tentativa de implicar os pais nos cuidados para com a criança, mas também, uma face perigosa! Pois ao “diagnosticar”, há um desinvestimento naquele sujeito, atrás de supostos “respaldos”! Dá família e da escola! 


Reclamamos das leis e dos políticos, mas nos confortamos em  dizer “fiz o que eu pude”, “ o problema não é meu”, assim, adestramos nossas atitudes em “tirar o corpo fora”. Adiantadas nas repetições que moldam nossas crenças inconscientes:

“Religião e política não se discute!”

“Menina/mulher, que usa roupa justa ou curta, está pedindo pra ser abusada.”

“Em briga de marido e mulher, não se mete a colher!”


Frases perversas, que fortalecem sistemas, épocas e pessoas abusadoras. Crime, principalmente contra aqueles que mais precisam de olhar, as minorias! Tem coisas, que a sociedade tem que entrar pra mudar sim!


Toda vez que você sabe de uma abuso e não denúncia, você também está abusando da fragilidade daquela pessoa, pior ainda se na infância.


Quando você sabe de algum menor, em que os pais retiraram os remédios psiquiátricos, pois acreditam que é falta de Deus a automutilação, e silencia. Você está colaborando para esse jovem suicidar!


Quando você se dá conta que na escola particular dos seus filhos, não tem negros. Que crianças da periferia não tem acesso a psiquiatras e psicólogos. Que jovens com transtorno mental, sofrem maus  tratos da própria família, e ainda assim você é a favor do homeschooling para todos. Você está sendo responsável pela possível miséria de existência que esses terão, se não dialogar sobre política! 


Quando você sabe que em um relacionamento, a mulher apanha, os filhos presenciam, e você não tenta auxiliar ou denunciar,  está julgando e sendo covarde! Em briga de marido e mulher, a gente mete a colher sim, e socorre os mais fracos!


Ao não se posicionar na vida, não se apropriar de si, seguem absurdos e covardias, como normalidade do mundo, conforme nos contaram!


Há um conto infantil, que certa vez, em um incêndio na floresta, todos os outros animais corriam. O beija flor foi o único a tentar apagar o fogo.  Indagado pelo elefante sobre a sua ineficiência, ele responde que sabe que não ira acabar com o incêndio, mas esta fazendo a sua parte! 


E se todos conseguissem fazer a sua parte? No incêndio e na sociedade?


Seria possível a partir do  comprometimento com a pessoa que queremos ser, com nosso desejo que sustenta isso. A consequência, é se comprometer também com o outro! 


Transmitir a importância do diálogo, da denúncia assinada, do sustentar não negociar direitos humanos e topar mesmo gerar incômodo em muita gente, que apenas se defende!


Na minha experiência médica, desde os primórdios dos meus atendimentos no interior de Minas, presenciei  “diretores” deixarem o único pronto socorro da cidade, ficar sem eletrocardiograma. Médicos retirarem a cadeira do paciente no consultório, para o atendimento ser rápido! E nesses lugares, como iniciante, não me demorei.


Posteriormente, dentro de um  hospital psiquiátrico, me indignava com abusos. Certa vez trancaram  uma paciente “na solitária”, era só uma adolescente! Briguei com gente muito grande, peguei as chaves das mãos do enfermeiro e fui até a porta do banheiro escuro que ela estava trancada. De lá eu escutava os gritos e o barulho das louças sendo quebradas. Fui chamando ela e conversando, avisando que estava ali para levá-la ao pátio. Senti muito medo, confesso, mas não paralisei! Ao abrir a porta,  o abraço que ela me me deu aos prantos, só me fortaleceu que laços salvam!  Eu fui demitida posteriormente, por outras cenas também que incomodei, faria tudo novamente! Lembrando que nenhum encontro é sem efeito, sei o quanto é inegociável pra mim situações de abuso! 


A clareza de quem somos, nos trás a coragem de sustentar contrariar o outro, e ajudar quem precisa! Estou falando de muita coisa aqui. Como dizia Nise da Silveira, é necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade!


É importante refletir, como nos posicionamos para mudar a realidade, principalmente em situações de abuso. Denúncia e assina sua fala? Ou silencia?


Discutir  política na internet, ofendendo sem de fato tentar mudar a realidade, é total hipocrisia! De boas intenções, o inferno está cheio, a gente sabe! Por isso, o que muda são os diálogos sim, mas seguidos de ações! 


Confessar a si, na sua mais sincera sombra, quais as suas ações perante as covardias e crimes? Se posiciona mesmo, de modo íntegro, se compromete com alguém em situação de risco  e fala com convicção, que essa pessoa não está sozinha? Que pode contar com você? Ou, fica velado pela covardia, vitimizando que ninguém faz nada? 


O mundo só vai mudar, se tivermos clareza de quem somos. Solitários, mas constituídos na relação com o outro, que é altero! Quando há espaço em nós, nasce a coragem para se contagiar, se comprometer e posicionar, uns com os outros em relações respeitosas.


Precisamos de mais beija flores e Nises!



Gabriela Lein Vieira



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Dra. Gabriela Lein

Gabriela Lein é médica atuante em psiquiatria, saúde de família e emergência. Atravessada pela psicanálise, há uma década atua em setor privado e público, realizando um exímio trabalho de investimento no indivíduo como cerne da vida. Visto esse modo atuante singular e impactante, promove saúde por onde passa, em âmbito nacional e internacional. Divulga seus questionamentos e inspira em suas redes sociais tanto no instagram quanto podcast, com base no conhecimento que tem do sofrimento humano real. Por aqui, semanalmente, acompanhem ela questionando o mundo em voz alta.

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