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Emiliana de Jesus escrevia cartas romãnticas

Publicado em 09/12/2021 - 09:35 Por Jeremias Brasileiro
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Créditos da imagem: Jeremias Brasileiro

Ter lembranças do passado e valorizar histórias das pessoas fortalece a fé e a destinação das mulheres inseridas nas diásporas internas de uma vivência nada fácil, permeada de desafios. Os tempos passam, as memórias ficam, enfrentar as adversidades cotidianas tendo como salvaguarda a fé em futuros melhores faz com que lembrar esse passado seja motivação de um contínuo viver resistindo:

A casinha onde mãe morava era de capim, de pau a pique, ela barreava quando chovia, ela aproveitava a água, fazia o barro e cobria os buracos, aterrava a casa, que naquele tempo não tinha piso, nada disso! Aí ela amassava barro, aterrava o chão da casa. Meu avô ficava na roça, minha avó cuidando de mãe e irmãos, fazendo mãe ir à escola, mas às vezes minha mãe não ia, pois, ela ia para roça ajudar meu pai. Carne era muito difícil, tinha, mas era muito difícil. Havia um pilão, um pilão baixinho, minha avó virava o pilão, colocava uma toalha em cima e ali estava então a pequena mesa de jejum de minha mãe. Quando acabava de jejuar, avó rezava e oferecia o que tinha na mesinha para os filhos comer. (Emiliana de Jesus, 2003).

São essas um pouco das minhas memórias a partir das lembranças de minha mãe com seus 81 anos de histórias em 2003. Atualmente (2021), Emiliana de Jesus está com 99 anos de idade. Trata-se naturalmente de contextos e tempos diferentes, entretanto importantes, para o entendimento sobre as formações familiares decorrentes desse processo histórico. Um grande ramo familiar pode dividir-se em uma outra teia mais abrangente.

Dona Emiliana de Jesus. A Emiliana de Jesus é uma senhora carismática, cheia de vivacidade e lucidez. Mãe, avó, bisavó, tataravó, atravessou toda essa temporalidade sem jamais desistir de sua fé. Lembra, porém, de onde vem e conta sem reclamar, como é praxe em toda a sua vida. Foi preceptora, uma forma professoral de ensinamento particular, alfabetizadora e com um letramento invejável, nos anos de 1950, escrevia cartas para as pessoas, inclusive de namoros que resultaram em casamentos. 


Tags: Cartas, memórias, vivências
 Jeremias Brasileiro Jeremias Brasileiro
Crônicas e Ensaios das Gerais

Doutor em História Social pela Universidade federal de Uberlândia. É Comandante Geral da Festa da Congada da cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, desde o ano de 2005 e presidente da Irmandade do Reinado do Rosário de Rio Paranaíba, Alto Paranaíba, Minas Gerais, desde o ano de 2011. Desenvolve pesquisas sobre cultura afro-brasileira e sua diversidade nas Congadas de Minas Gerais, associando-as com o contexto educacional, em uma perspectiva epistemológica congadeira, de ancestralidade africana. Um intelectual afro-brasileiro reconhecido na obra de Eduardo de Oliveira: Quem é quem na negritude Brasileira (Ministério da Justiça, 1998), que lista biografias de 500 personalidades negras no Brasil; e na obra de Nei Lopes: Dicionário Literário afro-brasileiro (Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2011). Detentor de um dos maiores acervos digitais sobre as Congadas de Minas Gerais, constituído desde a década de 1980, historiador com vasta experiência e produção cientifica sobre ritualidades, simbologias, coexistências culturais e religiosas em oposição ao conceito de sincretismo. Escritor, poeta, possui textos de dramaturgia, crônicas, literatura afro-brasileira.

Leia também: Sincretismo não! Coexistência cultural e religiosa, sim. Parte 1